Meus caros amigos,
Meus caríssimos irmãos,
Os santos evangelhos, na
narração que nos fazem de todos os acontecimentos que cercam a vinda de Jesus
sobre a terra, a Encarnação de nosso Salvador, os santos Evangelhos nos
manifestam a ação extraordinária que os santos Anjos desempenharam no anúncio
da Boa Nova.
Nosso Senhor ainda não
havia chegado. Nosso Senhor ainda não havia aparecido em público para cumprir
esta evangelização, parece que Deus quis que, em primeiro lugar, os anjos
fossem encarregados disso.
Notem que antes, para o
Percursor, para São João Batista, é o anjo Gabriel quem vem visitar Zacarias e
lhe anuncia que ele terá um filho que será o Precursor do Salvador.
Porém Zacarias duvidou da
palavra do Anjo, e, apesar disso, o anjo lhe disse explicitamente: “Sou
Gabriel, o anjo que vem anunciar-vos estas coisas, e porque hesitastes em
acreditar, ficareis mudo até o nascimento do Filho que Deus vos envia.”
Depois, ainda é um anjo
que vem visitar a Santíssima Virgem Maria, que também vem lhe anunciar a
notícia extraordinária de que ela seria a mãe de Jesus, de que ela seria a mãe
do Salvador. Poder-se-ia acreditar que a Santíssima Virgem também demonstrou
uma certa hesitação em aceitar a palavra do anjo.
De modo algum, se ela faz
uma objeção, é simplesmente porque ela quer guardar sua virgindade, e porque
ela não entendia como, ao guardar a sua virgindade, ela pode ser mãe.
E o anjo lhe explica que
o Espírito Santo a cobrirá com a sua sombra e que Aquele que nascerá dela será
o Filho do Altíssimo. Então, ela pronuncia seu Fiat.
Em seguida, também são os
anjos que dissiparão as dúvidas de São José. São José, com efeito, não conhecia
o Mistério e a graça insigne da qual era objeto sua esposa, a Virgem Maria, e
ele fica preocupado. Ele se pergunta como a Santíssima Virgem pode estar
grávida, e tem a intenção de abandoná-la. E eis que um anjo, em sonho, lhe
aparece e lhe diz que esta criança que a Virgem Maria carrega nasceu do
Espírito Santo, que ele não hesite em tomar Maria como esposa.
São José imediatamente
obedece as ordens do anjo e se une a Maria.
Mais uma vez, são os
anjos que anunciarão aos pastores a Boa Nova. Os pastores ficam assustados pela
luz que os cerca, pelo anúncio que este anjo lhes faz. Mas o anjo lhes diz:
“Não temam, vos anuncio uma boa nova: O Salvador prometido pelos Profetas vos nasceu.
Ele está na Cidade Santa, a cidade de Belém, cidade de Davi. Vós o
reconhecereis envolto em panos e cercado da Virgem Maria e de São José.”
E os pastores não hesitam
em ir procurar a Virgem Maria, São José e reconhecer, com efeito, a verdade da
palavra do anjo.
E, enquanto se afastam
para ir a Belém, não é mais somente um único anjo, mas todo um grupo importante
de anjos que cantam no Céu a glória de Deus: “Paz aos homens de boa vontade”.
E não termina aqui.
Também são os anjos que indicarão e que inspirarão o ancião Simeão, que também
reconhecerá Jesus.
Ora, qual é o resultado
deste contato que os anjos têm com as pessoas que têm esta graça insigne de
conhecer a notícia da Encarnação do Salvador, ou de ver Jesus com seus próprios
olhos? Pois bem! O resultado será que estas pessoas cantarão os louvores de
Deus.
Zacarias cantará aquele
magnífico hino, o Benedictus. A Virgem Maria cantará seu Magnificat. Os
pastores também cantarão a glória de Deus.
É o que diz a Sagrada
Escritura: depois de reconhecerem o que os anjos haviam dito, voltaram para
casa cantando os louvores de Deus.
O ancião Simeão cantará
seu Nunc dimittis. Consequentemente, a nova que Deus nos anuncia pelo
intermédio dos anjos nos faz cantar os louvores de Deus. Faz-nos prestar um
culto a Deus, de adoração, de agradecimento, de ação de graças. Nossas almas
devem se elevar a Deus e cantar estes cânticos, cantar a nossa alegria, cantar
os nossos agradecimentos, o nosso reconhecimento, a nossa gratidão a Deus que
veio para nos salvar, para nos livrar de nossos pecados.
Pois é exatamente isso
que é anunciado, a cada um daqueles que tiveram esta grande graça de ter um dos
primeiros anúncios da vinda do Salvador. Porque é o Salvador que nos é enviado.
Aquele que nos resgatará de nossos pecados.
Somente São José, em sua
humildade, quis, sem dúvida alguma, ceder todo o espaço à Santíssima Virgem
Maria. Sem dúvida, ele não se sentia digno do tesouro extraordinário que Deus
colocou em suas mãos: a Virgem e o Menino.
E por que, por que Deus
não continuou este ministério do anúncio da Boa Nova pelos anjos? Porque Ele o
fez naquele momento? Por que não o fez até o fim dos tempos? Sem dúvida, talvez
tivesse sido mais eficaz. Não sabemos. Mas Deus não quis isto. Por quê? Porque
alguém que era superior aos anjos deveria vir: Nosso Senhor Jesus Cristo em
pessoa.
Ele é o Rei dos anjos.
Consequentemente, Deus queria que os anjos preparassem o caminho, preparassem o
anúncio para Aquele que é seu Rei. Para Aquele que é muito mais do que eles.
Que é seu Criador. Não foi somente um anjo que veio nos anunciar a Boa Nova, é
o próprio Deus. O próprio Deus que quis tomar uma alma e um corpo como os
nossos, para nos anunciar esta Boa Nova.
Então seria preciso que
Nosso Senhor permanecesse entre nós até o fim dos tempos. Pois bem! Isto ainda
não está no desígnio de Deus. O desígnio de Deus é que ele existam homens,
homens que estejam associados intimamente ao sacerdócio de Nosso Senhor Jesus
Cristo, para levar a Boa Nova aos seus irmãos. Eis qual foi a intenção de Deus.
Eis qual foi o plano divino.
Associar, de um modo tão
íntimo, pessoas que seriam escolhidas para serem outros sacerdotes, para serem
outros Cristos, e que difundiriam a notícia da vinda do Salvador.
E qual será, então, o
objeto de sua pregação? Como Nosso Senhor conceberá esta transformação das
almas? Como as almas também cantarão cânticos à glória de Deus, para agradecer
a Deus pelos benefícios que lhes são concedidos?
Bem! Nosso Senhor, em sua
Onipotência e em sua bondade infinita, em sua misericórdia, quis que houvesse
um sacrifício, que seu Sacrifício continuasse até o fim dos tempos, pela
consagração dos padres, e que estes padres fossem eles próprios encarregados,
não somente de pregar o Evangelho, de anunciar a Boa Nova, mas de dar o
Espírito Santo, não mais como os anjos puderam dá-lo por suas palavras, pois,
parece que, à palavra dos anjos, o Espírito Santo desceu sobre as pessoas que
foram escolhidas por Deus para serem o objeto de suas graças particulares.
Com efeito, a Santíssima
Virgem ficou, à palavra do anjo, repleta do Espírito Santo. A própria Isabel,
apenas com a visita da Santíssima Virgem, também ficou cheia do Espírito Santo.
Zacarias, o ancião Simeão, São José, certamente, ao anúncio dos anjos, também
ficaram cheios do Espírito Santo.
Nosso Senhor não quis que
o mesmo acontecesse conosco. Certamente, Nosso Senhor quis que, ao anúncio do
Evangelho que nos é feito, pudéssemos nos converter. Porém Ele quis instituir
sacramentos. Ele quis instituir sinais que nos consagrariam a Deus, que
derramariam em nós o Espírito Santo.
Recebemos o Espírito
Santo pelo batismo e pela confirmação. Por todos os sacramentos, o Espírito
Santo é realmente derramado em nossas almas.
Logo, o efeito dos
sacramentos em nós deveria ser que entrássemos em ação de graças. Que nos
dedicássemos ao culto de Deus. Somos consagrados, consagrados ao culto de Deus.
E é por isso que Santo
Tomás diz, tão justamente, que o batismo nos prepara a Eucaristia. Prepara-nos
para o Santo Sacrifício que é o cerne de todos os sacramentos, que é o centro,
assim como o sol que ilumina sobre todos os sacramentos.
Em razão de sermos
consagrados a Deus, em razão de sermos batizados, do padre derramar sobre nós a
Água santa do batismo, ungir o nosso corpo com o Santo Crisma e o óleo dos
catecúmenos, somos consagrados ao culto de Deus.
Devemos pensar nisto,
ressuscitar em nós a graça do nosso batismo, que nos é dada por Nosso Senhor
Jesus Cristo, e pensar que, realmente, somos escolhidos por Deus para honrá-lo,
para adorá-lo, para agradecê-lo, para nos unir a Ele de um modo completamente
particular, por seu Espírito Santo, por todos os sacramentos.
Nosso Senhor quis que
toda a Sociedade seja cristã, e que ela seja consagrada a Deus, e que ela cante
os louvores de Deus. É por isso que há um sacramento particular para o
matrimônio. Os esposos devem cantar a glória de Deus. Eles também são
consagrados, pelo sacramento do matrimônio, para santificar a sociedade, que é
a família.
Mais ainda. Nosso Senhor
quis que toda a Sociedade fosse consagrada, consagrada ao louvor de Deus, à
glória de Deus, a estes cantos que não deveriam acabar nunca, continuar na
eternidade, pelo Santo Sacrifício da missa. Pela Santa Eucaristia que não pode
se separar da Cruz de Nosso Senhor. É o sacramento da Sociedade, o sacramento
que une, não somente uma família, mas todas as famílias, toda a Sociedade, os
príncipes, os magistrados, todos aqueles que têm uma função na Sociedade são
chamados a vir assistir ao Santo Sacrifício da missa. Eles também devem cantar
– eles são consagrados por Deus – para cantar os louvores de Deus. E toda a
multidão de fiéis unidos ao padre, em torno do altar, deve cantar os louvores
de Deus. É toda a Sociedade que deve ser consagrada a Deus. Eis o que Nosso
Senhor Jesus Cristo quis. Eis o que está no plano de Deus.
Mas, não podemos esquecer
que o ancião Simeão disse à Santíssima Virgem: “Vosso coração será transpassado
por uma espada”, e “vosso Filho será um sinal de contradição”.
E este sinal de
contradição que é Nosso Senhor, que é Jesus, relevará, diz o ancião Simeão, os
pensamentos íntimos dos homens. Sim! Nosso Senhor Jesus Cristo se apresenta
para nós, hoje e em todos os dias do ano. Ele está à porta do nosso coração.
Ele bate e nos pede para amá-lo. Ele nos pede para segui-lo. Ele nos pede para
obedecer aos seus mandamentos.
Qual será resposta dos
homens? Há aqueles que recusarão e há aqueles que aceitarão. E eis que os
pensamentos íntimos dos homens se revelam ao chamado de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Então, neste dia de
Natal, devemos pedir que as graças que Nosso Senhor Jesus Cristo veio nos
trazer sejam derramadas sempre mais no mundo. Ora, infelizmente, somos
obrigados a constatar que, em nossa triste época, as vozes se calam. O
Evangelho está sendo falsificado. Mesmo os nossos sacramentos estão sendo
distorcidos. A nossa própria Missa está se tornando uma missa da qual não se
sabe mais exatamente o que ela é, que não tem mais uma definição.
Então, podemos e devemos
nos preocupar, e devemos ficar angustiados diante desta situação deplorável,
que tem por resultado a apostasia geral.
Não podemos abandonar
Nosso Senhor Jesus Cristo. Não podemos abandonar o que Nosso Senhor Jesus
Cristo instituiu: seu Santo Sacrifício da missa, seus sacramentos, seu
Evangelho, seu ensinamento. Devemos permanecer firmes na fé e nos sacramentos
que Nosso Senhor Jesus Cristo veio nos trazer.
Certamente é isto que
será a garantia da renovação da Igreja.
Caros pais cristãos,
guardem fielmente o catecismo que vos foi ensinado em vossa juventude.
Ensinem-no aos vossos filhos. Ensinem aos vossos filhos o que foi ensinado a
vós mesmos. Ensinem-lhes o que é o Santo Sacrifício da Missa, a Cruz de Jesus.
Ensinem-lhes o que é o batismo, o que é sua confirmação, o que é a Santa
Comunhão, e então transmitam-lhes verdadeiramente o que Nosso Senhor Jesus
Cristo quis dar a vós mesmos. O que tendes de mais caro. Sejam fiéis, fiéis ao
ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E vós, meus caros amigos,
apesar das perseguições, apesar das dificuldades, apesar das calúnias que podem
pesar sobre vós, também sereis fiéis. Fiéis ao ensinamento dos Santos Anjos,
destes anjos que anunciaram o Salvador, que anunciaram Nosso Senhor Jesus
Cristo e que derramaram o Espírito Santo nas almas. Fieis a Nosso Senhor Jesus
Cristo, fiéis à Santa Igreja, eis o que sereis. E se fizerdes isto, tendes
certeza de que, um dia, o Bom Deus vos abençoará. Que o Bom Deus vos dará todas
as graças das quais precisardes.
Logo, vamos ao presépio
hoje e peçamos à Santíssima Virgem Maria, peçamos a São José, para colocarem em
nossos corações, em nossas almas, os sentimentos que faziam seus corações
baterem diante de Nosso Senhor, diante de Jesus que eles adoravam e amavam.
Em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo. Amém.